Endometriose – que doença é esta ?
No ano de 1921 um pesquisador chamado Sampson elaborou uma teoria – que até hoje leva seu nome – para tentar explicar esta enigmática patologia. Primeiramente, eu gostaria de explicar um pouco de anatomia a vocês e a partir daí explicar esta teoria. Vamos começar. O trato genital feminino tem uma particularidade que o torna completamente diferente do masculino. Na mulher, a vagina é um órgão que se comunica com o meio exterior, pois se abre na vulva, mas que se comunica também com o colo do útero, com o corpo do útero e com as trompas. E as trompas se abrem na cavidade abdominal. Então, na verdade o sistema genital feminino é um longo tubo que engloba vagina, colo, útero e trompas.
A vagina se abre para o meio exterior e a trompas para a meio interior. Por esta condição anatômica, quando vocês menstruam o fluxo sangüineo se exterioriza mas também cai dentro da sua barriga. Pois bem, naquele sangue menstrual tem células chamadas células endometriais, pois elas se origenam do endométrio. Tais células caem dentro da sua barriga e lá em algumas situações elas conseguem sobreviver, se implantar e se multiplicarem na superfície do intestino, dos ovários, do peritôneo. Aí reside a base da teoria de Sampson: este sangramento retrógrado originaria a endometriose. Mas calma, nem tudo se explica. Sabe porquê? Praticamente todas as mulheres quando menstruam, o seu sangramento menstrual sai e ela percebe isso, mas também tal sangramento vai para dentro da sua barriga. Mas a endometriose ocorre em apenas 10% das mulheres. Portanto não basta apenas menstruar de forma retrógrada. Na verdade, acredita se que estas mulheres que adoecem de endometriose tem algum defeito imunológico, que fazem com que suas células de defesa não consigam limpar aquele sangue menstrua. Esta é portanto, uma teoria de base imunológica. Por último, temos a teoria genética. É visível que esta patologia acomete algumas vezes mais de um indivíduo na mesma família. Mas o fato real é que ainda estamos longe de sabermos a causa desta doença. E sem sabermos a causa o tratamento fica manco.
Quando você deve desconfiar desta doença ?
Basicamente esta doença se caracteriza por dor e infertilidade. Aproximadamente 20% das mulheres se queixam apenas de dor, mas são férteis, 60% delas no entanto se queixam de dor e infertilidade e 20% se apresentam apenas com infertilidade. A dor da endometriose pode se manifestar como uma cólica menstrual que tende a se tornar mais intensa com o decorrer do tempo, portanto uma dica é quando você começa a usar mais analgésico e não passa completamente. Outras formas de dor também podem acontecer como dor na relação sexual – tal quadro muitas vezes é disparado em determinadas posições da relação sexual e tendem a se repetir nestas situações. Algumas mulheres queixam se de outros sintomas como um maior funcionamento do intestino quando menstruadas e muitas vezes associadas com dor neste momento.
Que repercussões ela pode trazer para sua fertilidade ?
É fato, que não mais se questiona, que a endometriose diminui as chances de uma gravidez natural. Sabemos que a endometriose possui estágios de agravamento – e que quanto mais grave, maiores são as chances de infertilidade. Apesar de não existir nenhuma evidência científica muito forte que a endometriose em seus estágios mais iniciais possa levar a infertilidade, hipotetizamos que nesta pacientes exista uma maior produção de substâncias inflamatórias e que tais substâncias possam levar a alterações na ovulação, fertilização e implantação do embrião. Endometrioses mais avançadas levam de forma inequívoca a uma diminuição da fertilidade. Em um estudo de macacas com endometriose induzida experimentalmente, a taxa de gravidez foi de cerca de 40 por cento nas macacas normais, mas apenas 12 por cento em animais com endometriose avançada e 0% se aderências do ovário estavam presentes . Mas neste estudo endometriose mínima não diminuiu a taxa de gravidez. Na endometriose avançada, existe uma verdadeira desorganização espacial da pelve devido a aderências entre os órgãos. É como se ficasse tudo grudado – útero, trompa, ovários e intestinas e desta forma a trompa não conseguiria captar o óvulo. O que fazer ? Taí uma pergunta difícil ! Indicar um tratamento cirúrgico ? Indicar uma fertilização “in vitro” ? Acredito que o mais importante é individualizar cada casal, olhar para eles como se fosse único. Levo muito em consideração a idade da mulher. Mas não apenas isso. Tempo de infertilidade, estresse psicológico que aquele casal esta vivenciando são elementos importantes para tentar buscar o melhor caminho de ajuda neste mundo permeado de dor e sofrimento.