Quando um casal chega ao meu consultório com um quadro de infertilidade, peço uma série de exames de rotina. Na mulher, avalio a ovulação e a qualidade ocitária, além das funções tubária e endometrial. Já a investigação do fator masculino ocorre através do espermograma, observando a quantidade, qualidade e mobilidade dos espermatozóides. No entanto, em aproximadamente 10 a 15% dos casos, ou seja, um em cada dez casais que chega ao meu consultório, não é possível determinar os fatores que levam a infertilidade. Os exames estão normais.
Meus amigos é muito duro para um casal tentar realizar o sonho da maternidade e da paternidade e não conseguir. Eles buscam sempre uma explicação. Questionam-se: o que há de errado comigo? Por que passar por essa provação? A falta de um diagnóstico exato só aumenta o sentimento de angústia e de frustração.
Procuro informar aos meus pacientes é que a infertilidade é um problema mais comum do que imaginam. Eles não estão sozinhos em sua dor. Um em cada seis casais, em algum momento, terá dificuldades para conceber uma criança. Esclareço, ainda, que a Reprodução Assistida é um campo de conhecimento muito recente na medicina. O nascimento do primeiro bebê de proveta ocorreu há pouco mais de trinta anos. Em medicina, isso é quase nada.
Os diagnósticos de ISCA podem representar, na verdade, a limitação do conhecimento da medicina. Significa que os exames disponíveis no momento não são capazes de detectar o problema que origina a infertilidade. Algumas interações, por exemplo, entre o espermatozóide e óvulo ou do embrião com as trompas ou com o endométrio não podem ser acompanhadas por exames.
Em outros casos, o problema de origem pode ser detectado, mas há uma falha no diagnóstico. Isso pode ocorrer pela ausência de um determinado exame, por um erro na sua realização ou por um equívoco na interpretação do médico. Um erro bastante comum ocorre com o espermograma, por exemplo. Esse exame deve ser realizado em um laboratório com controle de qualidade e que analise todos os parâmetros seminais, fornecendo laudos completos e adequados. Algumas alterações dos espermatozóides somente são detectáveis na análise da morfologia estrita, parâmetro que não faz parte da rotina da maioria dos laboratórios.
Por uma questão ética, o médico tem a obrigação de aprofundar ao máximo sua investigação para indicar o tratamento de acordo com a causa mais provável da infertilidade. No entanto, o diagnóstico da causa não deve se tornar uma obsessão nem para o médico e nem para o casal.
Aos nos deparamos com um caso autêntico de ISCA, devemos nos concentrar em resolver a principal angústia do casal: o desejo de ter um filho. A boa notícia é que, mesmo com a falta de um diagnóstico preciso, os tratamentos em reprodução assistida são eficazes. O casal não pode se entregar ao desespero. Confie no seu médico e discuta com ele o problema e o tratamento.
Os dois procedimentos mais indicados para esses casos são a inseminação e fertilização “in vitro”. Em meu consultório, a idade da mulher, novamente, é o principal fator que pondero ao indicar o tratamento. Se minha paciente já está tem quase 35 anos, não tenho dúvidas, indico a fertilização “in vitro”, pois estamos novamente correndo contra o tempo. Se tiver um casal jovem, cuja mulher tem a tubas integras e cavidade uterina normal, cujo espermograma do homem mostra, no mínimo, 5 milhões de espermatozóides móveis e com boa morfologia, podemos tentar a inseminação intra-uterina.
A prática clínica mostra que dois procedimentos aumentam a probabilidade de gravidez. No entanto, outro fator deve ser considerado pelo médico: a ansiedade do casal. Muitas vezes, deparo-me com jovens casais, marcados profundamente pela dor das tentativas frustradas de gravidez. Por mais que, do ponto de vista biológico, ainda haja tempo para tentar tratamentos de menor complexidade, do ponto de vista psicológico, eles não podem esperar. Nesses casos, parto direto para a fertilização “in vitro”, tratamento que oferece a eles a melhor chance de gravidez.