Minhas amigas e meus amigos,
Hoje vamos conversar sobre um assunto muito dolorido para os casais: o abordo de repetição. Infelizmente, um beta positivo não é sinônimo de um bebe em casa para nenhum casal, mesmo aqueles que não enfrentam problemas de infertilidade. Segundo dados da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, aproximadamente 25% de todas as gestações resultam em aborto espontâneo. É uma alta prevalência: uma em cada quatro. No entanto, menos de 5% das mulheres sofrem dois abortos consecutivos, e apenas 1% delas tem a terrível experiência de passar por três ou mais, caracterizando o abordo de repetição.
O abordo de repetição é uma patologia rara e extremamente devastadora para o casal, cujas causas devem ser investigadas profundamente pelo especialista em reprodução humana. O aborto espontâneo ocorre até a 20ª semana de gestação. Em cerca de 60% dos casos, decorre da má formação do feto, ou seja, existe uma anomalia cromossômica que impede o correto desenvolvimento do bebe. A idade da mulher aumenta as chances dessa má-formação do embrião e, consequentemente, das perdas gestacionais. Depois dos 40 anos, mais de um terço de todas as gestações não progridem. Estudos apontam, ainda, que anormalidades no DNA do esperma podem aumentar o risco de morte do feto.
Outro fator de risco para o aborto espontâneo é a diabetes mal controlada. As mulheres que têm insulina resistência, como as pacientes obesas ou com a síndrome de ovário policístico síndrome (SOP), também têm maiores taxas de perda gestacional. Problemas hormonais ou doenças hereditárias que favoreçam a formação de coágulos sanguíneos (trombose) na mulher aumentam o risco de aborto espontâneo. Em cerca de 10 % a 15 % das mulheres com perdas gestacionais recorrentes são encontradas anormalidades uterinas. Daí a importância de exames como a histeroscopia. A medicina não encontra explicações para 50% a 75% de casais com perdas gestacionais recorrentes. Para esses pacientes, o conforto é saber que entre 60% a 70 % das vezes a próxima gravidez é bem sucedida.
Independente da causa, o grande cerne do aborto recorrente é a frustração repetitiva pela qual os casais passam. Chegar a ver uma vida dentro de você e essa vida, algum tempo depois, não progredir fragiliza o casal. Se não é fácil não conseguir engravidar, talvez seja tão ou mais difícil ver uma vida começar e se findar de forma sequencial. Acredito que essa seja uma das piores dores que o casal pode passar na área da reprodução humana. Por isso, é indispensável um apoio psicológico para lidar com o sofrimento, raiva, isolamento e medo gerados pelos abortos.
É preciso ter coragem para continuar lutando pelo sonho de ter um filho. Ao enfrentar um aborto, seja ele repetitivo ou não, o casal precisa saber que não está sozinho e que pode buscar forças na família, nos amigos, na equipe médica e em outras pessoas que já passaram por isso. Cada caso deve ser avaliado pelo médico, que definirá com o casal o tempo de esperar antes de tentar a próxima gestação. É recomendado parar o tabagismo e álcool, reduzir o consumo de cafeína, controlar o peso, praticar atividades físicas moderadamente e fazer uma suplementação com ácido fólico. Um estilo de vida saudável só trará benefícios.
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