O câncer de mama é a doença maligna que mais atinge as mulheres. No entanto, se for detectado precocemente, com menos de 2 centímetros, a incidência de cura é muito alta, podendo chegar a 90% dos casos. Por outro lado, tenho observado que esse câncer está atingindo, cada vez mais, pacientes jovens, que estão no início de suas vidas reprodutivas.
Se elas se submetem aos tratamentos convencionais de rádio e quimioterapia, há uma grande chance de perda da fertilidade, com possibilidade de menopausa durante o primeiro ano de tratamento. Então, a melhor saída para essas pacientes é preservar a fertilidade antes de iniciar essas modalidades terapêuticas contra o carcinoma, pois não há como determinar se haverá ou não falência ovariana.
Além disso, nas mulheres que conseguem a gravidez após o tratamento da neoplasia, há um aumento nas taxas de abortamentos. Normalmente, essas pacientes passam por um tempo de espera de até cinco anos para tentar a gravidez. Então, se ela tem 30-35 anos quando descobre o câncer, faz o tratamento e espera cinco anos, essa paciente estará com 35-40 anos quando for tentar a gravidez e terá contra ela também o fato idade.
Sobre a preservação da fertilidade em pacientes com câncer, alguns mitos precisam ser desfeitos. Primeiro, cuidar da fertilidade da paciente atrasaria o tratamento do carcinoma. Hoje, não há necessidade em esperar iniciar um novo ciclo menstrual. Em qualquer momento em que essa paciente chegar ao consultório, o especialista em reprodução sabe os protocolos adequados para iniciar o tratamento.
Outro mito é que o tratamento de reprodução assistida piora o estágio do câncer mama. Cada caso tem ser analisado pelo oncologista e pelo especialista em reprodução. Para essas pacientes, são adotados protocolos de estimulação ovariana específicos, nos quais os níveis de estradiol são comparáveis aos obtidos em um ciclo natural.
Se a paciente já tem uma união estável, a melhor opção é o congelamento de embriões, tratamento que dará as maiores chances de gravidez. São coletados os óvulos da paciente, os quais serão unidos em laboratório aos espermatozoides do parceiro, formando os embriões que serão congelados. Quando essa mulher tiver vencido o câncer, esses embriões são descongelados e implantados. A taxa de sucesso nesses casos é de 50%.
Outra opção é o congelamento do óvulo. No entanto, apesar dos avanços das técnicas de congelamento, esse ainda é um procedimento experimental. Como o óvulo é uma célula com uma grande quantidade de água, há a possibilidade de formação de cristais durante o congelamento, o que fará com que os percamos no processo de descongelamento. Hoje, adotamos a técnica de congelamento rápido chamada de vitrificação, cujas taxas de sobrevivência dos óvulos é de cerca de 95%. Após o descongelamento, eles são submetidos à fertilização in vitro.
Mais recentemente a medicina reprodutiva passou a estudar o congelamento de tecido ovariano. Nessa técnica, são coletados cirurgicamente e congelados pequenos fragmentos do ovário, os quais contêm os óvulos, no estágio mais imaturo. Ainda se estuda se após esse descongelamento esses óvulos serão amadurecidos no laboratório ou se esse tecido será reimplantado na paciente. É uma nova esperança para as pacientes com câncer.
O que é preciso deixar claro é que, graças aos avanços da medicina, essas mulheres têm vencido o câncer de mama. Agora, é o momento de avançar também na preservação dos sonhos e da qualidade de vida dessas pacientes após o câncer, e isso passa pelo desejo de ser mãe.
