No ano de 1992, Palermo encantou o mundo da reprodução quando desenvolveu uma técnica a qual depois a nomeou de ICSI, ou injeção intracitoplasmática de espermatozoide. Com esta técnica e utilizando um sofisticado microscópio com micro manipuladores foi possível injetar um único espermatozoide no interior do citoplasma do óvulo. Através desta tecnologia foi possível fazer com que milhares de homens portadores de oligozoospermia severa pudessem exercer a sua paternidade do ponto de vista genético. Consideramos homens com oligozoospermia severa aqueles com menos de 5 milhões de espermatozoides. Tais homens, antes de 1992, teriam que recorrer a bancos de sêmen. Foi um marco na história da reprodução. Até esta data, fazia se o que chamamos atualmente de Fertilização “in vitro” convencional, ou seja, nesta técnica colocávamos um óvulo rodeado por 100 a 200 mil espermatozoides e o melhor deles conseguia a fecundação. Do contrário, na ICSI somos nós que escolhemos aquele que consideramos ser o melhor espermatozoide..
A escolha humana
Nesta nova técnica é o olho humano que escolhe o espermatozóide para ser colocado dentro do óvulo. Fazemos isto com uma lente de aumento que permite visualizar o espermatozóide em um aumento de 400x. Mas seria isto suficiente para escolhermos o melhor espermatozóide? Talvez sim, talvez não! A ICSI foi, sem nenhuma dúvida, o maior avanço tecnológico da década passada; entretanto, retardou as pesquisas no campo da infertilidade masculina e apenas recentemente estamos sendo brindados por novas emergentes tecnologias nesta interessante área.
Então, o que tem de novo?
Temos basicamente três novos tipos de avanços: um deles na área de exames diagnósticos e os outros dois na área de tratamento. Como exame diagnóstico, temos o que chamamos de Índice de Fragmentação do DNA do espermatozóide. Com esta técnica, usando corantes especiais e uma microscopia com um sistema de fluorescência, é possível corar os espermatozóides danificados com uma coloração avermelhada diferentemente dos espermatozóides normais sem danos ao seu DNA, que se corariam de uma coloração verde azulada. Tal exame, chamado de Índice de Fragmentação do DNA Espermático, mostra de forma clara os espermatozóides normais e os danificados. Consideraríamos como normal, índices abaixo de 20%, ou seja, de cada 100 espermatozóides contados teríamos que ter menos de 20 danificados. Valores acima deste ponto de corte não excluem uma fecundação natural e uma gestação normal, porém, está associado com uma significante redução nestas taxas e com pelo menos o dobro de abortamentos. Muito interessante é o fato de indivíduos com exames de espermograma normal segundo os critérios da OMS poderem ser portadores desta alteração. Vários fatores podem elevar os índices de fragmentação do DNA do espermatozóide, alguns corrigíveis, outros não. A saber: uso de drogas, febre elevada, ambientes com altos níveis de poluição, dietas ricas em gorduras e idade paterna elevada. Cresce hoje um conceito já por demais sabido entre as mulheres: a de que idade influencia decisivamente nos resultados dos tratamentos de fertilização “in vitro”. Portanto, parece que também a idade paterna pode ter influência nos resultados, não apenas a idade da mulher. Conceito novo. No nosso centro de Reprodução Humana já incorporamos este exame na nossa prática há mais de uma ano. Na próxima semana abordaremos as novas tecnologias para escolher o espermatozóide com maior potencial de fecundação, ou seja, o que fazer quando estamos diante de um homem portador desta alteração – aumento da fragmentação do DNA espermático. Portanto, até lá.