Algumas pacientes têm problemas tão grave no útero que é simplesmente impossível para elas gerar uma criança, seja porque nasceram sem órgão, porque o retiraram cirurgicamente por meio de histerectomia ou porque o útero não se desenvolveu corretamente. Nesses casos, o melhor tratamento é a fertilização com o útero de substituição.
Nessa técnica, a paciente submete-se a rotina normal da fertilização in-vitro: é estimulada por meio de hormônios a produzir óvulos, que, quando maduros, são coletados e fecundados no laboratório. A diferença do tratamento ocorre na fase de implantação do embrião. Como a paciente não tem útero ou este não é capaz de gerar o bebê, precisará de uma parenta consanguínea de até o 4º grau (mãe, irmã, avó, tia ou prima) que empreste a ela temporariamente o útero.
Essa parenta tomará medicações para preparar o útero dela para receber o embrião da paciente, que será implantado dois a cinco dias após a fertilização. Esse procedimento é simples, não necessitando de anestesia, consiste em depositar os embriões na cavidade uterina com o auxílio de um cateter. A partir daí, o desenvolvimento do bebê seguirá normalmente.
O útero de substituição também é indicado para pacientes que possuem uma alteração muito significativa na cavidade uterina, como a presença de vários e grandes miomas, adenomiose importante e aderências extensas, o que atrapalharia a implantação e o desenvolvimento embrionário. É um caminho a ser avaliados para pacientes com doenças crônicas graves, como o lúpus, que seriam descompensadas durante a gestação, trazendo riscos para a mãe e para o bebê. Além disso, é a técnica necessária para os casais homossexuais masculinos.
O cerne da técnica do útero de substituição é a avaliação emocional dos envolvidos. O médico e equipe de psicológicos precisarão ficar atentos. Além disso, a doadora temporária de útero não pode ter mais de 50 anos. Quando o paciente não tem nenhuma parenta consanguínea até o quarto grau, é necessária uma autorização especial do Conselho Regional de Medicina.
O procedimento nunca poderá caráter lucrativo ou comercial. Isso constituiria um crime federal de comércio de tecidos, órgão e partes do corpo humano. Por isso, a denominação “barriga de aluguel” e a forma como a técnica foi divulgada recentemente em novelas é errada. Os termos que devemos usar são útero de substituição, doação temporária do útero ou barriga solidária.
O útero de substituição para mim é um ato de amor. Amor de uma família que se une para realizar o sonho da maternidade. Gerar uma criança que não é seu filho não é para qualquer mulher! Uma doadora temporária do útero é uma pessoa abnegada, que muitas vezes concretizará o sonho de ser avó ou tia, ao tempo em que ver sua filha ou irmã ser mãe.
Do mesmo modo, permitir que o início de vida de um filho ocorra no útero de outra mulher, expressa o desejo de ser mãe e manifesta o amor por essa criança. É saber que, além da carga genética, são todos os outros meses de convivência que darão o real significado da maternidade. Essa paciente pode, inclusive, preparar-se para amamentar. Por que, minhas amigas, o que uma mãe não faz por suas crias?